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sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Coloco hoje no blog artigo que publiquei em “O Tempo” sobre Hélio Garcia, na Editoria de Opinião, coordenada pelo também cineasta Victor de Almeida (um luxo só, como diz a canção, da mídia mineira). O texto é de março (os idos...), mas não perdeu a contemporaneidade. O motivo de bisá-lo é que pretendo (está sendo conversado) publicar outros artigos, semanalmente, nessa linha. A ideia é mostrar aspectos inusitados da política de Minas e de seus personagens. Espero que goste.
 
Hélio Garcia, personagem do rico folclore político mineiro
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> Publicado no Jornal OTEMPO em 22/03/2012
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> CARLOS BARROSO
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> Jornalista; comentarista político da "BHNews TV" e colunista da revista "MatériaPrima"
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> FOTO: DUKE
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> DUKE
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> Hélio Garcia, apesar de seu mutismo, era quase um literato da política. Explico: o último cacicão de Minas buscava, no passado, ensinamentos - e fraseologia - dos mestres para construir o presente. Exatamente como fazem os escritores, que recompõem, a partir de seus precursores, sua própria essência literária.
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> Ele repetia máximas como a do ex-governador (ou interventor) Benedito Valadares: "Bem comum, bem nenhum". Benedito mostrava que obras subterrâneas, como é o caso do esgotamento sanitário, não provocam impacto eleitoral.
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> Um obelisco, uma praça reformada por traço de arquiteto, ao contrário, conquistam fama e ganham eleições.Exemplo: a reforma da praça da Liberdade teve grande peso na eleição de Eduardo Azeredo - por sinal, catapultado ao governo por Garcia.
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> O cacique conseguia até tiradas poéticas. Diante da insistência de jornalistas sobre promessas marqueteiras, saiu-se com esta: "Não me lembro. Tenho um limpador no para-brisa traseiro que apaga tudo para trás".
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> Metáfora garciística. Acabou imitado por Fernando Henrique Cardoso. Confrontado por discrepâncias entre seu passado de sociólogo e decisões de governo, o tucano pediu: "Esqueçam o que escrevi". Puro Hélio Garcia.
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> Outras frases revelam o apreço dele à chamada "mineiridade": "Não brigo, mas também não faço as pazes."
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> Como quase-literato, buscava na autorreferência o entendimento do fazer político.
> Comparava o início de disputas eleitorais a um caminhão de porcos. "Quando o caminhão ainda está parado, os porcos berram, grunhem, fazem um escarcéu! Colocada a primeira marcha, quando o caminhão começa a andar, os porcos ficam caladinhos; todo mundo se acomoda".
> Uma autocrítica nada lisonjeira à política.
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> Outra pérola que adorava jogar aos jornalistas (não aos porcos) atacava a política feita em microfones, sob o flash dos fotógrafos e as luzes da TV. "Política deve ser feita à noite, com chapéu e sobretudo, dentro de um táxi, de preferência em movimento".
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> Este artigo não pretende defini-lo ou a seus mandatos no governo (1983-84/1991-94), política ou historicamente. Trata-se de reminiscências jornalísticas.
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> Garcia não se sentia bem diante da assertiva de que passava o tempo todo no Palácio das Mangabeiras, enquanto o homem forte de seu governo, Evandro de Pádua Abreu, cuidava do varejão palaciano. EPA mantinha, contudo, um telefone vermelho - sou testemunha - que trinava o dia todo, com instruções, às vezes irritadas, de Garcia.
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> Esse folclore tinha humor. Quando ele deixou o PMDB, em 1990, e fundou o PRS para aglutinar base suprapartidária, um repórter decifrou a sigla: "PRS - Partido Regado a Scotch".
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> Durante a disputa do governo pelo PT, Virgílio Guimarães contou-me uma história que mostra a ambivalência - politicamente perigosa - dessa exploração eleitoral. Virgílio abriu um comício atacando o gosto de Garcia pela bebida. Do meio do público, uma voz irritadiça retrucou: "Se quiser atacar o homem, ataca. Falar que ele bebe, não! ‘Nó is ’ aqui tudo bebe!". Virgílio não tocou mais no assunto. "Se eu bebesse o tanto que falam, não estaria vivo", reclamou, certa vez, o ex-governador.
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> Fumador inveterado, Garcia foi provocado por uma repórter que queria saber por que ele nunca participava d e eventos matinais. Queria pegá-lo em relação a seus hábitos boêmios.
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> - Mas o senhor faz o quê pelas manhãs?
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> - Tusso!

terça-feira, 27 de novembro de 2012


MORTE NO AGLOMERADO DA SERRA: O MUNDO QUER MUDANÇAS.
O mundo está mudando. Muita gente usa antolhos e se nega a ver. A sociedade, felizmente, evolui. Gerações acreditavam que a mudança seria ideológica. Não sei comensurar o peso disso. Mas a expansão da rede social mudou o mapa ideológico do mundo. Não há dúvida de que revoluções árabes foram e estão sendo feitas usando a rede como principal instrumento de informação. No Brasil, houve a ascensão econômica de expressivas camadas populares. Hoje, essas pessoas têm acesso à rede social, à mídia eletrônica. Em São Paulo, a execução covarde de um detido pela PM foi filmada por um celular e estourou na imprensa. Em São Paulo, em Sorocaba (interior paulista), em Santa Catarina, há distúrbios que precisam ser analisados sem preconceito. Não basta falar que é ação do PCC. Algo está mudando. Mais uma morte no Aglomerado da Serra, depois da execução, há um ano, de um tio e sobrinho dele no local. Ao que tudo indica, o crime  anterior envolvia achaque policial. Não se pode pré-julgar o caso de agora, mesmo com a população afirmando tratar-se também de execução. Mas, mais que nunca, é necessário dar uma resposta convincente aos moradores do Aglomerado. O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Joaquim Barbosa, que também preside o Supremo, disse hoje que o CNJ estuda fim da Justiça militar nos estados.A proposta nasceu diante da constatação de que o Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais deixou prescrever 270 processos contra militares. Embora o tribunal tenha um orçamento de quase R$ 31,5 milhões. Isto é, não importa o que o militar fez, ele não será mais processado. Cresce o clamor para que esses casos, que envolvem diretamente a população, sejam entregues a tribunal de justiça comum. Se um policial roubar uma arma em um tribunal, é caso de tribunal da corporação. Se matar um cidadão, vai para a justiça comum. “Uma justiça (a militar) que poderia muito bem ser absorvida pela justiça comum, porque não há qualquer necessidade de sua existência”, grifou Joaquim Barbosa.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


PT: BRASIL MAIS UM TERÇO?
Dizem que São Paulo é meio Brasil. É exagero. Mas é um terço. O estado tem 33% da economia brasileira, do PIB, produto interno bruto nacional. O PT, além da presidência da República, quer esse terço. A fórmula foi lançada pelo marqueteiro da presidente Dilma, João Santana. Experiente jornalista de política antes de se enveredar pelo marketing, com seis vitórias em eleições presidenciais no currículo, no Brasil e no exterior, ele, não está só fazendo balão de ensaio. É um recado direto à oposição para 2014. Nos últimos dias, foi anunciado que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sairá candidato à presidência nacional do partido tucano. É uma forma de ocupar espaço na mídia, já que ele se tornará personagem constante no noticiário (até mais que agora). Foi anunciado que Aécio iniciará também uma caravana pelo País – bisando a estratégia de Lula antes de vencer a primeira eleição presidencial –, até mesmo para expandir o seu nome pelo País. Pois bem, o PT, via marqueteiro, já manda o recado: virá com força total em 2014. 

LEAL E COMPETENTE SÉRGIO MIRANDA.
Fiquei estarrecido (não encontro outra palavra) com a notícia do falecimento, hoje, de Sérgio Miranda, que durante quatro legislaturas foi deputado federal pelo PCdoB. Competente, leal, inteligente, grande fonte para os repórteres de política, ele era nordestino (Belém do Pará), mas veio para Minas como militante (segundo me disse, eles eram deslocados pelo País para ocupar espaços políticos) e se tornou mineiro como poucos. Morreu, hoje, em Brasília, 65 anos, aparentemente vigoroso. Evoco aos céus existentes por ele.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

REPUBLICADO: A POSSE DE JOAQUIM BARBOSA: O HAITI É AQUI.

O fato de um afrodescendente assumir o mais alto posto da Magistratura é de importância incomensurável. Parabéns ministro Joaquim Barbosa. Contra todos e todos, ele chegou lá. Contudo, não vai mudar muita coisa. O racismo no Brasil é camuflado pela chamada cordialidade do brasileiro. Mas é um dos mais fortes do planeta. Exemplo: são quantos ministros negros no primeiro escalão do Governo Dilma (PT)? Talvez só a ministra da Igualdade Racial (que é uma obviedade), Luiza Bairros. Quantos secretários negros no governo Anastasia (PSDB)? Quais no secretariado do prefeito Márcio Lacerda (PSB)? Pouquíssimos, se é que existem. O fato de o presidente do Supremo ser negro, por si só, não vai alterar essas condições. As cotas, eu acredito, embora importantes, também não serão motor da história de mudanças. O escritor Machado de Assis, neto de escravos, foi apontado pelo conceituado crítico Harold Bloom como o maior gênio literário afrodescendente da humanidade. Mais de cem anos depois da morte de Machado (1908), não creio que esse fato tenha melhorado as condições dos negros brasileiros. Para mudar, é preciso haver uma democracia econômica no País. O número de homicídios – que já era um dos maiores do mundo – dobrou em São Paulo nos últimos meses. Boa parte das vítimas é de jovens e negros. Não é só em São Paulo. Isso acontece em todo o País, principalmente nas regiões metropolitanas. Há um programa deliberado de extermínio, que não é discutido por causa da hipocrisia e dos interesses reinantes. Tudo é colocado, sem investigação, na esfera de “guerra do tráfico”, “briga de gangs”..Como diz a música “Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, costumeiramente são forças policiais formadas por uma maioria negra perseguindo (torturando e matando) negros. A deputada Janete Pietá (PT/SP), que defende direitos trabalhistas dos empregados domésticos, deduziu que a maioria é formada por mulheres negras. Pesquisa recente do IBGE aponta que a faixa de mulheres com mais dificuldades de contrair casamento é da raça negra. Portanto, segundo o racismo brasileiro, que transita em setores pouco imagináveis, a afrodescendente é para trabalhar de doméstica, não pode nem casar. Logicamente, tem exceções – e muitas. Mas, o Haiti é aqui; continua sendo aqui. Não é porque Lázaro Ramos é um dos principais artistas globais que o racismo diminuiu.

PS: fiz, há dois anos, um poema visual, “Presunto a Passarinho”, sobre o tema. Quem se interessar, envio por e-mail. Os meus endereços são: carlosbarrozo@hotmail.com / jornalistacarlosbarroso@gmail.com

 

 

A POSSE DE JOAQUIM BARBOSA: O HAITI É AQUI.
O fato de um afrodescendente assumir o mais alto posto da Magistratura é de importância incomensurável. Parabéns ministro Joaquim Barbosa. Contra todos e todos, ele chegou lá. Contudo, não vai mudar muita coisa. O racismo no Brasil é camuflado pela chamada cordialidade do brasileiro. Mas é um dos mais fortes do planeta. Exemplo: são quantos ministros negros no primeiro escalão do Governo Dilma (PT)? Talvez só a ministra da Igualdade Racial (que é uma obviedade), Luiza Bairros. Quantos secretários negros no governo Anastasia (PSDB)? Quais no secretariado do prefeito Márcio Lacerda (PSB)? Pouquíssimos, se é que existem. O fato de o presidente do Supremo ser negro, por si só, não vai alterar essas condições. As cotas, eu acredito, embora importantes, também não serão motor da história de mudanças. O escritor Machado de Assis, neto de escravos, foi apontado pelo conceituado crítico Harold Bloom como o maior gênio literário afrodescendente da humanidade. Mais de cem anos depois da morte de Machado (1908), não creio que esse fato tenha melhorado as condições dos negros brasileiros. Para mudar, é preciso haver uma democracia econômica no País. O número de homicídios – que já era um dos maiores do mundo – dobrou em São Paulo nos últimos meses. Boa parte das vítimas é de jovens e negros. Não é só em São Paulo. Isso acontece em todo o País, principalmente nas regiões metropolitanas. Há um programa deliberado de extermínio, que não é discutido por causa da hipocrisia e dos interesses reinantes. Tudo é colocado, sem investigação, na esfera de “guerra do tráfico”, “briga de gangs”. Como diz a música “Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, costumeiramente são forças policiais formadas por uma maioria negra perseguindo (torturando e matando) negros. A deputada Janete Pietá (PT/SP), que defende direitos trabalhistas dos empregados domésticos, deduziu que a maioria é formada por mulheres negras. Pesquisa recente do IBGE aponta que a faixa de mulheres com mais dificuldades de contrair casamento é da raça negra. Portanto, segundo o racismo brasileiro, que transita em setores pouco imagináveis, a afrodescendente é para trabalhar de doméstica, não pode nem casar. Logicamente, tem exceções – e muitas. Mas, o Haiti é aqui; continua sendo aqui. Não é porque Lázaro Ramos é um dos principais artistas globais que o racismo diminuiu.

terça-feira, 20 de novembro de 2012


A CHUVADA FORMA UM RIO: LEVA VOCÊ E A PLACA.
Estou perplexo, pois vejo o meio político mais preocupado com questões partidárias, com conchavos, do que propriamente com um trabalho articulado de prevenção da chuvarada em Minas. Mais uma vez, o Estado está ameaçado com mortes e catástrofes. O governador Antonio Anastasia (PSDB) se reuniu ontem,  no Palácio da Liberdade, com novos vereadores eleitos da base aliada. Discutiu com eles as dificuldades financeiras para o trabalho de prevenção. Anteriormente,  Anastasia havia criticado o burocratismo do governo federal na liberação de recursos. Ontem, ele pediu um novo plano de liberação emergencial para contenção e prevenção. Por que, no entanto, a reunião foi apenas com os novos aliados? Na Assembleia Legislativa, os deputados oposicionistas Rogério Correia (PT) e Sávio Souza Cruz (PMDB) levaram ao plenário um uniforme de babá. A peça seria entregue ao vice-prefeito eleito, deputado Délio Malheiros (PV), que teria  incumbência de encaminhá-la ao prefeito Márcio Lacerda (PSB). Na semana passada, o prefeito admitiu falhas na prevenção. Completou que: “Nós devíamos ter sido um pouco mais babás dos cidadãos, para que eles não corressem riscos”. Penso que, ao contrário de ironias sobre uma frase desastrada, de conchavos partidários, tanto governador, prefeito, deputados e vereadores teriam de fazer uma articulação suprapartidária para pressionar por verbas e resultados. Para buscar uma prevenção eficaz para a tragédia anunciada da chuva. Senão, o número de vítimas facilmente vai ultrapassar o da temporada passada: 24 mortos. Até agora – e ainda não chegou dezembro – já são 11. Se não houver união política, no mínimo, o drama se repetirá. Não basta colocar placas em locais de riscos: a chuva forma rapidamente um rio no local. Leva você e a placa.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


QUEDA NA CONTA DE LUZ ACERTA AS FINANÇAS DO ESTADO
Neste final do ano, ao menos um ponto o consumidor poderá comemorar. A Medida Provisória 579 determinará em 2013 um desconto de 20% nas contas de energia, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel. A energia no Brasil é uma das mais caras do mundo. E, absurdo do absurdo, é a taxação que existe do consumo familiar, a chamada conta de luz.  Isso espanta o mundo. Por isso, essa desoneração de 20% já vem tarde. Conversei com político que dialoga todo dia com o governador Antonio Anastasia (PSDB). Ele disse que ninguém do Governo vai cometer a insensatez ou mesmo a disparidade de criticar esse desconto. Mas, uma moeda tem dois lados, cara e coroa, ou até mais, a borda e o interior. E esse desconto de 20% na conta de luz vai pesar muito nas finanças do Governo, que é o grande acionista da Cemig. Só em ICMS, vai haver uma queda de R$ 500 milhões ao ano. E o Estado também deixará de receber cerca de R$ 1,5 bilhão em dividendos, como dono da estatal. Ano passado, Minas arrecadou R$ 35 bilhões. Portanto, a receita cairá em cerca de 7% com a desoneração. 2013 será um ano de dificuldades. A Europa já assumiu  que está em recessão; o crescimento da China recuou; os Estados Unidos apenas esboçam uma recuperação. E grande parte da arrecadação mineira está calcada em commodities. A exportação é a primeira a pagar a conta da crise. Os números da indústria também  patinam. Portanto, o novo ano deverá apontar para a queda acentuada de investimentos do Estado, que já tem de pagar, mensalmente, um papagaio de quase R$ 500 milhões à União - por conta do serviço da dívida.  E não será ano eleitoral, que atrai investimentos e empregos, pelo menos provisórios. O governador Anastasia, que se reúne, na segunda-feira, no Palácio da Liberdade, com vereadores de Belo Horizonte, deve estar quebrando a cabeça em busca de saídas para amenizar o quadro.
 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012


MAIS FÁCIL PARA DIRCEU É PEDIR ASILO POLÍTICO
O ex-ministro José Dirceu não fugiria do País. Ele já fugiu uma vez, mas sob ameaça de morte, acossado pela ditadura militar, que pegava, torturava e matava, ao menos em mais de 300 casos comprovados. Dirceu não se considera um ladravaz, um ladrãozinho. Ele reagiu ao pedido de apreensão do passaporte determinado pelo ministro-relator Joaquim Barbosa. Lula recomendou que nessa fase, estrategicamente, os petistas ficassem na moita e não provocassem o Supremo Tribunal Federal. Mas Dirceu rebateu trata-se de um “puro populismo jurídico”. O ministro Joaquim Barbosa, no entanto, não pode partir do pressuposto de que fulano ou sicrano não vai fugir. Não pode se basear em conjecturas. Vários condenados pela Justiça Brasileira preferiram o caminho do exterior. Um exemplo foi PC Farias, homem forte do ex-presidente Fernando Collor, que terminou fugindo. Reconduzido ao País, acabou assassinado, em episódio nebuloso da história brasileira. Mais fácil para Dirceu seria entrar em uma embaixada, por exemplo a da Venezuela do reeleito presidente Hugo Chávez, e pedir asilo político aos “hermanos”. Mas o importante no mensalão é o País deixar para trás a idéia de que poder é sinônimo de corrupção. Foi o que disse para mim – com outras palavras – o ex-presidente Supremo, o mineiro Carlos Velloso. Até mesmo o presidente da China, Hu Jintao, advertiu em discurso recente de transferência de poder que a corrupção pode ser fatal para aquele País. A corrupção na alta esfera de poder chinês é uma praga. No Brasil é endêmica. O processo que apurava tráfico de influência envolvendo o filho de Lula, Fábio Luis, mais conhecido como Lulinha, foi arquivado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Em 2005, a pequena empresa de Lulinha, a Gamecorp, recebeu um aporte de capital de R$ 5 milhões da antiga Telemar, telefônica que depois se fundiu com a Brasil Telecom para criar a Oi. Em seguida, o governo Lula mudou as regras do jogo setor de telecomunicações para tornar possível a fusão da Telemar com a Brasil Telecom. É assim e assado.

 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012


 

 A 300 KM DA COSTA, OS ROYALTIES PERTENCEM AO RJ?
A presidente Dilma está mais uma vez entre a cruz e caldeirinha, como se diz popularmente. Derrotada pela Câmara dos Deputados, que provou – a exemplo da votação do Código Florestal –  que entre interesses e fidelidade, não titubeia: fica com os interesses. A partilha dos royalties agrada a quase todos os estados, mas coloca o Espírito Santo e principalmente o Rio de Janeiro em pé de guerra contra a partilha. O governador Sérgio Cabral (PMDB) já avisou que o Estado vai fechar. Ele apela até ao emocional. Ameaça com o fracasso da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, dois anos depois, competições centralizadas no RJ. Se Dilma não vetar parcialmente o projeto de divisão, o impasse poderá parar no Supremo Tribunal Federal.  A defesa dos demais estados também é consistente: por que o pré-sal, a 300 km mar adentro, deve pertencer a esse ou aquele estado? O petróleo, transformado em gasolina e insumos, não é consumido por todo o País? Se todo mundo consume e sustenta a máquina do petróleo, não é justo que todos recebam royalties? Minas Gerais será beneficiada pela partilha.  O repasse ao Estado e municípios pulará de R$ 91 milhões para R$ 757 milhões – um aumento de 726%, segundo projeções. Mineiramente, o governador Antonio Anastasia (PSDB) tem evitado se pronunciar sobre o assunto. Em junho último, ele lançou uma campanha contra a disparidade no tratamento do royalty do petróleo e do minério. Enquanto o petróleo alcança a soma de R$ 25,8 bilhões em benesses com o royalty, a mineração fica muito aquém: estanca em R$ 1,5 bilhão. Como Minas concentra quase 25% da extração mineral do País, haveria um grande reforço de caixa. Com o aumento da partilha dos dividendos do petróleo, mais ainda.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A ESCRAVIDÃO DOS MUNICÍPIOS PELO GOVERNO FEDERAL.
Os municípios vivem hoje uma situação de escravidão em relação ao governo federal. A definição partiu do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), após o relato exacerbado de prefeitos sobre a situação econômica de suas cidades. A reunião, hoje, no plenário do Legislativo, também patrocinada pela Associação Mineira de Municípios, reuniu, além de 200 prefeitos que não se reelegeram, presidentes de Câmaras Municipais, vereadores e demais líderes municipalistas. A União fez cortesia com o chapéu alheio. Ao desonerar o IPI, principalmente para automóveis e para a chamada linha branca, acertou em cheio os municípios. Vinte e três e meio por cento do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) nascem do IPI. Oitenta por cento dos municípios mineiros dependem quase que exclusivamente do FPM. Com a redução do imposto, as cidades ficaram na penúria. A situação dos prefeitos que estão saindo – porque já eram reeleitos ou não se reelegeram – é ainda pior. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impede que eles deixem contas a pagar para o sucessor. Se fizerem isso, podem receber multa pesada, de 1 a 10 salários que recebem e serem condenados a até quatro anos de prisão. Os prefeitos reeleitos dão um jeito de maquiar as contas; quem sai, tem de apresentar números redondos. Otra situação: como as contas dos municípios estão zeradas é grande a dificuldade para pagar o 13º salário dos funcionários. Por isso, os prefeitos atauam para mudar o quadro e não sair das prefeituras pelas portas dos fundos. No dia 19, eles fazem nova marcha a Brasília. Para protestar. Pedem que o governo, ao invés de desonerar o IPI para economia não ir para o buraco, corte na própria carne. Tire a diferença da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, dinheiro que vai diretamente para o caixa federal. A Assembleia Legislativa e a Associação Mineira de Municípios decidiram protocolar medida cautelar contra o governo federal. Passadas as eleições, o movimento do balcão de reclamação só tende a aumentar.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

REFORMA DE LACERDA COMEÇA DE OLHO EM 2014.
Vai começar a corrida ao pote de ouro eleitoral. Dezenove partidos apoiaram a reeleição de Márcio Lacerda (PSB) e todos vão querer uma fatia do novo governo municipal. Amanhã, o prefeito dá largada às reuniões com os partidos da base aliada. O PT ocupava ao menos a metade da administração. Tinha três secretárias de peso, entre elas a de Obras, e a presidência de várias estatais. Ocupava, no total, 900 cargos comissionados na Prefeitura. Só isso dá uma reforma de peso no secretariado de Lacerda. O prefeito tem evitado o vazamento de nomes dos que devem assumir secretarias. Alguns nomes são evidentes, como é o caso dos vereadores Alberto Rodrigues, do PV, para a pasta de Esportes, e do vereador Fábio Caldeira, do PSB. Os dois não se reelegeram. Surgiu também o nome do teatrólogo Pedro Paulo Paiva para a Secretaria Municipal de Cultura, que será recriada. Muito mais que nomes, Márcio Lacerda terá de se preocupar em dar peso político ao novo secretariado. 2014 está aí. Além da articulada dobradinha presidencial com os tucanos – leia-se com Aécio Neves –,  há a sucessão estadual. E Márcio Lacerda é candidatíssimo, embora negue, à vaga do governador Antonio Anastasia.

MENSALÃO: OPOSIÇÃO RECUOU NO INDICIAMENTO DE LULA.
Acredito que dificilmente haverá um mensalão 2. Colocar Lula como réu no atual mensalão é impossível. Ele teria de ter sido indiciado no início do processo. Mas, na época, com a economia brasileira e a popularidade de Lula subindo às alturas, a oposição não teve coragem – acabou recuando. Mesmo agora a representação contra Lula chegou à Procuradoria Geral da República esvaziada. O DEM não assinou o requerimento. O partido de oposição alegou achar mais prudente aguardar a manifestação do Ministério Público sobre o depoimento de Marcos Valério, uma vez que o publicitário prestou depoimento ao procurador-geral Roberto Gurgel. Na semana passada, os tucanos também haviam recuado. Agora, para pegar os holofotes da retomada do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, os tucanos resolveram endossar a representação. Mas ela não foi assinada pelo presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, que se encontra doente. O chamegão tucano partiu de deputados e senadores, como o paranaense Álvaro Dias. Novo indicativo de recuo?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


INCOMPETÊNCIA PÚBLICA NÃO É FORÇA DA NATUREZA.
Eleição vai, eleição vem. Só nos últimos dias, foram nove mortes em Minas por causa da chuva, que antecipa a catástrofe anunciada todos os anos. As obras de infraestrutura para enfrentar os temporais e outras situações emergenciais no Estado não saíram. Depois do drama enfrentado por Minas em janeiro e fevereiro deste ano, com 19 mortes, 230 cidades em situação de emergência e mais de 110 mil pessoas desalojadas, até agora pouco foi feito. Foram prometidos R$ 30 bilhões para a infraestrutura, mas o dinheiro tem vindo em conta-gota. No início do ano, o governador Antonio Anastasia deixou de lado o estilo diplomático, criticando o “burocratismo” reinante no governo federal. Em um recado a todo governo Dilma, ele pediu agilidade na liberação de verbas. Anastasia disse que, em momentos de crise, a burocracia do papelório exigido aos municípios atingidos tem de ser suspensa. É até irônico. A presidente Dilma prorrogou por mais dois meses o pagamento da bolsa-estiagem em razão da seca prolongada nas regiões Norte e Nordeste do Estado. Cada família beneficiada pelo programa vai receber mais duas parcelas de R$ 80, totalizando um custeio de R$ 560 e não mais R$ 400, como estava previsto. Três milhões de famílias recebem a bolsa, em 1.245 municípios colocados em situação de emergência no País por causa da estiagem. Mas, com chuva e estiagem ao mesmo tempo, pode parecer que a natureza é culpada. Não é. O despreparo das autoridades e a dificuldade em formular propostas são a principal causa dos danos. Um exemplo: menos da metade dos recursos destinados a 11 ministérios - entre eles o de Cidades e Infraestrutura, -foi efetivada. Incompetência pública não é força da natureza.