DÉCIO PIGNATARI: O BRASIL ENGANA O LUTO.
O Brasil está de luto. Morreu Décio Pignatari. Mas o Brasil não
sabe que está de luto. Pignatari era pop, mas não era
popular. O Brasil sabe de Paulo Coelho, a quem louvo pelo trabalho como
letrista do imortal Raul Seixas. Décio Pignatari, que morreu ontem, fazia parte dos
chamados trigênios, uma forma de elogiar – e de criticar – os três poetas que
inventaram o concretismo e outras maneiras de vanguarda no País. Nomes
incensados em todo o mundo: ele, Haroldo de Campos, que morreu em 2008, aos 73
anos, e Augusto de Campos, com 82 anos. Para mim, hoje, Augusto, ao lado do chileno
Nicanor Parra, de 98 anos, são os dois maiores poetas (antipoetas?) do planeta.
Esse final de ano tem sido terrível para as artes brasileiras. Há três meses, também
morria Affonso Ávila, aos 94 anos, poeta das Minas. Acredito que Campos
(Augusto e Haroldo), Ávila e Pignatari são os quatro mais importantes poetas brasileiros
contemporâneos. Mas agora só um está por aqui (perdão aos amantes de Ferreira
Gullar, aos quais me incluo). Como sou comentarista político, devo falar de
política. Vou fazê-lo com dois poemas de Décio Pignatari (as reproduções que
fiz são artesanais). O primeiro é “Terra”, que intui a terra arada e dividida,
como deveria ser, não só poeticamente, mas nos campos:
ra terra
ter
rat erra ter
rate erra
ter
rate rra
ter
rater ra
ter
raterr a ter
raterr a ter
raterra terr
araterra te
rraraterra t
errraraterrra
terraraterra
O segundo é “Coca-Cola”, sobre a bebível ignorância humana:
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
c l o a c a
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