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domingo, 2 de dezembro de 2012


DÉCIO PIGNATARI: O BRASIL ENGANA O LUTO.
O Brasil está de luto. Morreu Décio Pignatari. Mas o Brasil não sabe que está de luto. Pignatari era pop, mas não era popular. O Brasil sabe de Paulo Coelho, a quem louvo pelo trabalho como letrista do imortal Raul Seixas. Décio Pignatari, que morreu ontem, fazia parte dos chamados trigênios, uma forma de elogiar – e de criticar – os três poetas que inventaram o concretismo e outras maneiras de vanguarda no País. Nomes incensados em todo o mundo: ele, Haroldo de Campos, que morreu em 2008, aos 73 anos, e Augusto de Campos, com 82 anos. Para mim, hoje, Augusto, ao lado do chileno Nicanor Parra, de 98 anos, são os dois maiores poetas (antipoetas?) do planeta. Esse final de ano tem sido terrível para as artes brasileiras. Há três meses, também morria Affonso Ávila, aos 94 anos, poeta das Minas. Acredito que Campos (Augusto e Haroldo), Ávila e Pignatari são os quatro mais importantes poetas brasileiros contemporâneos. Mas agora só um está por aqui (perdão aos amantes de Ferreira Gullar, aos quais me incluo). Como sou comentarista político, devo falar de política. Vou fazê-lo com dois poemas de Décio Pignatari (as reproduções que fiz são artesanais). O primeiro é “Terra”, que intui a terra arada e dividida, como deveria ser, não só poeticamente, mas nos campos: 

ra   terra   ter

rat    erra  ter

rate   erra  ter

rate    rra   ter

rater    ra   ter

raterr     a  ter

raterr      a ter

raterra     terr

araterra      te

rraraterra     t

errraraterrra

terraraterra 

O segundo é “Coca-Cola”, sobre a bebível ignorância humana:
 
 
beba coca cola

babe          cola

beba coca

babe cola caco

caco

cola

         c l o a c a

 

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