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terça-feira, 18 de dezembro de 2012


PIZZA DO CACHOEIRA: BLINDAGEM DA TRÍPLICE ALIANÇA.
A pizza foi assada e colocada na mesa. A CPI do Cachoeira já havia se resvalado na farsa. Terminou em piada. De humorista ruim. O relatório do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), de apenas duas paginazinhas, não prevê indiciamento de suspeitos que participaram do esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal. Portanto, nada de indiciar Carlinhos Cachoeira e a ala empresarial do bicheiro, liderada por Fernando Cavendish, da Construtora Delta. Escaparam também, ilesos, os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro. Criticado pela oposição por blindar o PT na comissão, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), devolveu o troco. Em entrevista ao blog, o petista disse que a “tríplice aliança” articulou a pizza.“É uma autêntica pizza, com a qual não compartilhamos. A tríplice aliança – Perillo, Cachoeira e Cavendish – fez essa blindagem na CPI”, disse Odair Cunha. Segundo ele, o único ganho dos trabalhos, que torraram oito meses de investigação e muito dinheiro público foi o compartilhamento dos dados com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal. “Pelo menos assim a investigação pode continuar. Mas situações delituosas não deram em nada”, lembrou. O segundo deputado mineiro da CPI, Domingos Sávio (PSDB), votou a favor do relatório. Todos à mesa!
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


LULA NÃO JOGA PALAVRAS AO VENTO.
Virou guerra. A revelação de trechos do depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público federal, na tentativa de se livrar de uma longa estada na cadeia, em que ele afirma que o mensalão custeou despesas pessoais de Lula, que teria abençoado o mensalão, provocou tiroteio intenso entre situação e oposição. No Congresso, petistas tentam dar o troco ou pelo menos abafar o clamor dos oposicionistas por uma investigação ampla sobre Lula. Sobrou para o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Ele está ameaçado de ser convocado pela Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, para falar sobre chamada “Lista de Furnas”. Esse propalado documento, que não tem autenticidade comprovada, lista doações ilegais a 156 políticos em 2002, quando FHC era presidente. Em síntese, a situação quer mostrar que a oposição também tem o seu mensalão. O convite para o depoimento de FHC foi encaminhado pelo líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto. Senadores petistas – Jorge Viana, Eduardo Suplicy (SP), Lindbergh Farias (RJ), Wellington Dias (PI) e Walter Pinheiro (BA). O interessante é o senador Viana, terminou saindo em defesa de FHC. Disse o seguinte: “Eu defendo que não se faça isso com o Lula, então não posso ter dois pesos e duas medidas. É certo que há uma campanha para destruir a imagem do Lula, mas isso não nos dá razão de fazer o olho por olho". O senador disse ainda de trata-se de um “grande brasileiro”, referindo-se ao ex-presidente. Nisso, o PT tem razão. Esse é o País dos mensalões. Mas, essa guerra provocou uma repercussão politicamente muito forte. Aparentemente acuado, Lula insinuou, em Paris, que pode ser candidato a presidente da República em 2014. Disse que houve resistência de empresários quando ganhou a Presidência pela primeira vez, arrematando que: "Espero que, se um dia eu voltar a ser candidato, eu tenha o voto deles, que eu acho que não tive nas outras eleições". Um político com a batuta de Lula não joga palavras ao vento. Foi uma forma de ele avisar à oposição para não bulir com ele, pois Lula-lá pode voltar. Interessante é que, as acusações a Lula, ofuscaram outras questões que envolviam o PT. Não se fala mais contra a prisão do ex-ministro José Dirceu e de outros petistas. A defesa do chefe tem prioridade.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012


LULA – NÃO EXISTE CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA.
Não existe cidadão acima de qualquer suspeita. Digo isso porque me lembrei da obra-prima do cineasta grego Costa-Gravas, Z – Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, sobre crimes da ditadura militar chilena, com participação da atriz brasileira Florinda Bulkan. Belíssima no filme de1969. Lula não é imune ou impune. Mas a pergunta é: a teia do mensalão vai envolver o ex-presidente? Acho improvável, mas não é impossível. Marcos Valério declarou ao Ministério Público Federal que pagou despesas pessoais do ex-presidente com dinheiro do valerioduto. Depôs também que foi ameaçado de morte pelo PT. As declarações de Valério, na tentativa de escapar de uma longa temporada na cadeia – ele foi condenado a mais de 40 anos de prisão – carecem de credibilidade. Agora mudou um pouco de figura. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, do alto da popularidade como caçador de mensaleiros, sugeriu ao Ministério Público a investigação das denúncias envolvendo Lula. Isso não quer dizer nada, pois denúncias vão e veem. Mas, sugestão do presidente do Supremo se traduz em quase uma ordem. Se for encontrado algum indício de que o ex-presidente se locupletou com o esquema, o quadro pode mudar. A oposição já saiu em campo. Hoje, em Brasília, o senador Aécio Neves ironizou que a capacidade do PT de criar fatos negativos ultrapassam a própria capacidade da oposição de denunciá-los. Segundo Aécio, quando a oposição estudava a operação Porto Seguro – aquele escândalo que envolve a suposta namorada de Lula, Rose Noronha – surgem fatos novos e atropelam as denúncias antigas. Mas o PT não se abalou. Lula disse, em Paris, que é “tudo mentira”. A presidente Dilma, também na capital francesa, disse que as denúncias são “lamentáveis”. Concluiu assim: “É sabida a minha admiração, o meu respeito e minha amizade pelo presidente Lula. Portanto, eu repudio todas as tentativas - e esta não será a primeira vez - de tentar destituí-lo da imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem". Cartas na mesa. É mais uma rodada do jogo, senhoras e senhores.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


PARA AÉCIO É BOA HORA, ENQUANTO O PT SE ENROLA.
A água segue para o mar. Depois de nova derrocada do ex-governador José Serra,dessa feita a prefeito paulistano, é hora e vez de Aécio Neves na disputa da Presidência da República. Sabem disso as pedras de Minas, a indústria de São Paulo e os traços do arquiteto de Brasília. O momento é bom, enquanto o PT se enrola no mensalão e no namoro respingado de suspeitas de maracutaias de Lula e Rose. Aécio está com quase tudo, mas não pode ficar prosa. É cedo para a campanha. Se sair antes na chuva, vai se molhar. Por isso, estabeleceu etapas. Primeiro, vai se eleger presidente nacional do PSB, em maio próximo. Campanha, mesmo, só em 2014. Mas, hoje, ele não se fez de rogado. “Eu estou pronto. O Brasil está cansado com o que está acontecendo", disse Aécio, referindo-se às denúncias de corrupção que pipocam. FHC também atacou o governo. Ao falar da transposição do Rio São Francisco, deixada de lado, disse: "É uma vergonha. Este governo não tem nenhuma eficiência. Não tem por causa das malfeitorias e dos malfeitos e isso não é questão de moralismo. É porque isso afeta os resultados. É o povo que paga por isso." Engraçado que, na época em que  transposição era defendida pelo ex-vice-presidente José Alencar, a oposição atacava a ideia. Mas, oposição é assim mesmo, agora é a hora de ser bodoque e quebrar vidraças. Pegando a deixa, Aécio tem, ainda, problemas para transpor para chegar em 2014 em condições de competir e ganhar. Primeiro, ampliar sua imagem para todo o País. Têm regiões, com muito voto, que nunca ouviram falar em Aécio Neves. Já Dilma e Lula são conhecidos como níqueis. Outro é emplacar um nome consensual ao governo de Minas, que una os mais de 20 partidos que apoiam o governo tucano. A briga pelo apadrinhamento já está começando a ficar feia.Terceiro, como não se pode escolher adversário em eleição, é se preparar, pois a parada será dura: o PT tem Dilma e Lula, na regra três – ou vice-versa – para disputar mais quatro anos de poder. Não é fácil.

domingo, 2 de dezembro de 2012


DÉCIO PIGNATARI: O BRASIL ENGANA O LUTO.
O Brasil está de luto. Morreu Décio Pignatari. Mas o Brasil não sabe que está de luto. Pignatari era pop, mas não era popular. O Brasil sabe de Paulo Coelho, a quem louvo pelo trabalho como letrista do imortal Raul Seixas. Décio Pignatari, que morreu ontem, fazia parte dos chamados trigênios, uma forma de elogiar – e de criticar – os três poetas que inventaram o concretismo e outras maneiras de vanguarda no País. Nomes incensados em todo o mundo: ele, Haroldo de Campos, que morreu em 2008, aos 73 anos, e Augusto de Campos, com 82 anos. Para mim, hoje, Augusto, ao lado do chileno Nicanor Parra, de 98 anos, são os dois maiores poetas (antipoetas?) do planeta. Esse final de ano tem sido terrível para as artes brasileiras. Há três meses, também morria Affonso Ávila, aos 94 anos, poeta das Minas. Acredito que Campos (Augusto e Haroldo), Ávila e Pignatari são os quatro mais importantes poetas brasileiros contemporâneos. Mas agora só um está por aqui (perdão aos amantes de Ferreira Gullar, aos quais me incluo). Como sou comentarista político, devo falar de política. Vou fazê-lo com dois poemas de Décio Pignatari (as reproduções que fiz são artesanais). O primeiro é “Terra”, que intui a terra arada e dividida, como deveria ser, não só poeticamente, mas nos campos: 

ra   terra   ter

rat    erra  ter

rate   erra  ter

rate    rra   ter

rater    ra   ter

raterr     a  ter

raterr      a ter

raterra     terr

araterra      te

rraraterra     t

errraraterrra

terraraterra 

O segundo é “Coca-Cola”, sobre a bebível ignorância humana:
 
 
beba coca cola

babe          cola

beba coca

babe cola caco

caco

cola

         c l o a c a

 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Coloco hoje no blog artigo que publiquei em “O Tempo” sobre Hélio Garcia, na Editoria de Opinião, coordenada pelo também cineasta Victor de Almeida (um luxo só, como diz a canção, da mídia mineira). O texto é de março (os idos...), mas não perdeu a contemporaneidade. O motivo de bisá-lo é que pretendo (está sendo conversado) publicar outros artigos, semanalmente, nessa linha. A ideia é mostrar aspectos inusitados da política de Minas e de seus personagens. Espero que goste.
 
Hélio Garcia, personagem do rico folclore político mineiro
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> Publicado no Jornal OTEMPO em 22/03/2012
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> CARLOS BARROSO
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> Jornalista; comentarista político da "BHNews TV" e colunista da revista "MatériaPrima"
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> FOTO: DUKE
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> DUKE
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> Hélio Garcia, apesar de seu mutismo, era quase um literato da política. Explico: o último cacicão de Minas buscava, no passado, ensinamentos - e fraseologia - dos mestres para construir o presente. Exatamente como fazem os escritores, que recompõem, a partir de seus precursores, sua própria essência literária.
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> Ele repetia máximas como a do ex-governador (ou interventor) Benedito Valadares: "Bem comum, bem nenhum". Benedito mostrava que obras subterrâneas, como é o caso do esgotamento sanitário, não provocam impacto eleitoral.
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> Um obelisco, uma praça reformada por traço de arquiteto, ao contrário, conquistam fama e ganham eleições.Exemplo: a reforma da praça da Liberdade teve grande peso na eleição de Eduardo Azeredo - por sinal, catapultado ao governo por Garcia.
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> O cacique conseguia até tiradas poéticas. Diante da insistência de jornalistas sobre promessas marqueteiras, saiu-se com esta: "Não me lembro. Tenho um limpador no para-brisa traseiro que apaga tudo para trás".
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> Metáfora garciística. Acabou imitado por Fernando Henrique Cardoso. Confrontado por discrepâncias entre seu passado de sociólogo e decisões de governo, o tucano pediu: "Esqueçam o que escrevi". Puro Hélio Garcia.
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> Outras frases revelam o apreço dele à chamada "mineiridade": "Não brigo, mas também não faço as pazes."
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> Como quase-literato, buscava na autorreferência o entendimento do fazer político.
> Comparava o início de disputas eleitorais a um caminhão de porcos. "Quando o caminhão ainda está parado, os porcos berram, grunhem, fazem um escarcéu! Colocada a primeira marcha, quando o caminhão começa a andar, os porcos ficam caladinhos; todo mundo se acomoda".
> Uma autocrítica nada lisonjeira à política.
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> Outra pérola que adorava jogar aos jornalistas (não aos porcos) atacava a política feita em microfones, sob o flash dos fotógrafos e as luzes da TV. "Política deve ser feita à noite, com chapéu e sobretudo, dentro de um táxi, de preferência em movimento".
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> Este artigo não pretende defini-lo ou a seus mandatos no governo (1983-84/1991-94), política ou historicamente. Trata-se de reminiscências jornalísticas.
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> Garcia não se sentia bem diante da assertiva de que passava o tempo todo no Palácio das Mangabeiras, enquanto o homem forte de seu governo, Evandro de Pádua Abreu, cuidava do varejão palaciano. EPA mantinha, contudo, um telefone vermelho - sou testemunha - que trinava o dia todo, com instruções, às vezes irritadas, de Garcia.
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> Esse folclore tinha humor. Quando ele deixou o PMDB, em 1990, e fundou o PRS para aglutinar base suprapartidária, um repórter decifrou a sigla: "PRS - Partido Regado a Scotch".
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> Durante a disputa do governo pelo PT, Virgílio Guimarães contou-me uma história que mostra a ambivalência - politicamente perigosa - dessa exploração eleitoral. Virgílio abriu um comício atacando o gosto de Garcia pela bebida. Do meio do público, uma voz irritadiça retrucou: "Se quiser atacar o homem, ataca. Falar que ele bebe, não! ‘Nó is ’ aqui tudo bebe!". Virgílio não tocou mais no assunto. "Se eu bebesse o tanto que falam, não estaria vivo", reclamou, certa vez, o ex-governador.
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> Fumador inveterado, Garcia foi provocado por uma repórter que queria saber por que ele nunca participava d e eventos matinais. Queria pegá-lo em relação a seus hábitos boêmios.
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> - Mas o senhor faz o quê pelas manhãs?
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> - Tusso!

terça-feira, 27 de novembro de 2012


MORTE NO AGLOMERADO DA SERRA: O MUNDO QUER MUDANÇAS.
O mundo está mudando. Muita gente usa antolhos e se nega a ver. A sociedade, felizmente, evolui. Gerações acreditavam que a mudança seria ideológica. Não sei comensurar o peso disso. Mas a expansão da rede social mudou o mapa ideológico do mundo. Não há dúvida de que revoluções árabes foram e estão sendo feitas usando a rede como principal instrumento de informação. No Brasil, houve a ascensão econômica de expressivas camadas populares. Hoje, essas pessoas têm acesso à rede social, à mídia eletrônica. Em São Paulo, a execução covarde de um detido pela PM foi filmada por um celular e estourou na imprensa. Em São Paulo, em Sorocaba (interior paulista), em Santa Catarina, há distúrbios que precisam ser analisados sem preconceito. Não basta falar que é ação do PCC. Algo está mudando. Mais uma morte no Aglomerado da Serra, depois da execução, há um ano, de um tio e sobrinho dele no local. Ao que tudo indica, o crime  anterior envolvia achaque policial. Não se pode pré-julgar o caso de agora, mesmo com a população afirmando tratar-se também de execução. Mas, mais que nunca, é necessário dar uma resposta convincente aos moradores do Aglomerado. O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Joaquim Barbosa, que também preside o Supremo, disse hoje que o CNJ estuda fim da Justiça militar nos estados.A proposta nasceu diante da constatação de que o Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais deixou prescrever 270 processos contra militares. Embora o tribunal tenha um orçamento de quase R$ 31,5 milhões. Isto é, não importa o que o militar fez, ele não será mais processado. Cresce o clamor para que esses casos, que envolvem diretamente a população, sejam entregues a tribunal de justiça comum. Se um policial roubar uma arma em um tribunal, é caso de tribunal da corporação. Se matar um cidadão, vai para a justiça comum. “Uma justiça (a militar) que poderia muito bem ser absorvida pela justiça comum, porque não há qualquer necessidade de sua existência”, grifou Joaquim Barbosa.