Coloco hoje no blog artigo que publiquei em “O Tempo” sobre Hélio Garcia,
na Editoria de Opinião, coordenada pelo também cineasta Victor de Almeida (um
luxo só, como diz a canção, da mídia mineira). O texto é de março (os idos...), mas não perdeu a
contemporaneidade. O motivo de bisá-lo é que pretendo (está sendo conversado)
publicar outros artigos, semanalmente, nessa linha. A ideia é mostrar aspectos
inusitados da política de Minas e de seus personagens. Espero que goste.
Hélio Garcia, personagem do
rico folclore político mineiro
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> Publicado no
Jornal OTEMPO em 22/03/2012
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> CARLOS BARROSO
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> Jornalista;
comentarista político da "BHNews TV" e colunista da revista
"MatériaPrima"
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> FOTO: DUKE
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> DUKE
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> Hélio Garcia,
apesar de seu mutismo, era quase um literato da política. Explico: o último
cacicão de Minas buscava, no passado, ensinamentos - e fraseologia - dos
mestres para construir o presente. Exatamente como fazem os escritores, que
recompõem, a partir de seus precursores, sua própria essência literária.
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> Ele repetia
máximas como a do ex-governador (ou interventor) Benedito Valadares: "Bem
comum, bem nenhum". Benedito mostrava que obras subterrâneas, como é o
caso do esgotamento sanitário, não provocam impacto eleitoral.
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> Um obelisco, uma
praça reformada por traço de arquiteto, ao contrário, conquistam fama e ganham
eleições.Exemplo: a reforma da praça da Liberdade teve grande peso na eleição
de Eduardo Azeredo - por sinal, catapultado ao governo por Garcia.
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> O cacique
conseguia até tiradas poéticas. Diante da insistência de jornalistas sobre
promessas marqueteiras, saiu-se com esta: "Não me lembro. Tenho um
limpador no para-brisa traseiro que apaga tudo para trás".
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> Metáfora
garciística. Acabou imitado por Fernando Henrique Cardoso. Confrontado por
discrepâncias entre seu passado de sociólogo e decisões de governo, o tucano
pediu: "Esqueçam o que escrevi". Puro Hélio Garcia.
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> Outras frases
revelam o apreço dele à chamada "mineiridade": "Não brigo, mas
também não faço as pazes."
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> Como
quase-literato, buscava na autorreferência o entendimento do fazer político.
> Comparava o início
de disputas eleitorais a um caminhão de porcos. "Quando o caminhão ainda
está parado, os porcos berram, grunhem, fazem um escarcéu! Colocada a primeira
marcha, quando o caminhão começa a andar, os porcos ficam caladinhos; todo
mundo se acomoda".
> Uma autocrítica
nada lisonjeira à política.
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> Outra pérola que
adorava jogar aos jornalistas (não aos porcos) atacava a política feita em
microfones, sob o flash dos fotógrafos e as luzes da TV. "Política deve
ser feita à noite, com chapéu e sobretudo, dentro de um táxi, de preferência em
movimento".
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> Este artigo não
pretende defini-lo ou a seus mandatos no governo (1983-84/1991-94), política ou
historicamente. Trata-se de reminiscências jornalísticas.
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> Garcia não se sentia
bem diante da assertiva de que passava o tempo todo no Palácio das Mangabeiras,
enquanto o homem forte de seu governo, Evandro de Pádua Abreu, cuidava do
varejão palaciano. EPA mantinha, contudo, um telefone vermelho - sou testemunha
- que trinava o dia todo, com instruções, às vezes irritadas, de Garcia.
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> Esse folclore
tinha humor. Quando ele deixou o PMDB, em 1990, e fundou o PRS para aglutinar
base suprapartidária, um repórter decifrou a sigla: "PRS - Partido Regado
a Scotch".
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> Durante a disputa
do governo pelo PT, Virgílio Guimarães contou-me uma história que mostra a
ambivalência - politicamente perigosa - dessa exploração eleitoral. Virgílio
abriu um comício atacando o gosto de Garcia pela bebida. Do meio do público,
uma voz irritadiça retrucou: "Se quiser atacar o homem, ataca. Falar que
ele bebe, não! ‘Nó is ’ aqui tudo bebe!". Virgílio não tocou mais no
assunto. "Se eu bebesse o tanto que falam, não estaria vivo",
reclamou, certa vez, o ex-governador.
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> Fumador inveterado,
Garcia foi provocado por uma repórter que queria saber por que ele nunca
participava d e eventos matinais. Queria pegá-lo em relação a seus hábitos
boêmios.
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> - Mas o senhor faz
o quê pelas manhãs?
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> - Tusso!