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sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Coloco hoje no blog artigo que publiquei em “O Tempo” sobre Hélio Garcia, na Editoria de Opinião, coordenada pelo também cineasta Victor de Almeida (um luxo só, como diz a canção, da mídia mineira). O texto é de março (os idos...), mas não perdeu a contemporaneidade. O motivo de bisá-lo é que pretendo (está sendo conversado) publicar outros artigos, semanalmente, nessa linha. A ideia é mostrar aspectos inusitados da política de Minas e de seus personagens. Espero que goste.
 
Hélio Garcia, personagem do rico folclore político mineiro
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> Publicado no Jornal OTEMPO em 22/03/2012
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> CARLOS BARROSO
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> Jornalista; comentarista político da "BHNews TV" e colunista da revista "MatériaPrima"
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> FOTO: DUKE
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> DUKE
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> Hélio Garcia, apesar de seu mutismo, era quase um literato da política. Explico: o último cacicão de Minas buscava, no passado, ensinamentos - e fraseologia - dos mestres para construir o presente. Exatamente como fazem os escritores, que recompõem, a partir de seus precursores, sua própria essência literária.
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> Ele repetia máximas como a do ex-governador (ou interventor) Benedito Valadares: "Bem comum, bem nenhum". Benedito mostrava que obras subterrâneas, como é o caso do esgotamento sanitário, não provocam impacto eleitoral.
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> Um obelisco, uma praça reformada por traço de arquiteto, ao contrário, conquistam fama e ganham eleições.Exemplo: a reforma da praça da Liberdade teve grande peso na eleição de Eduardo Azeredo - por sinal, catapultado ao governo por Garcia.
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> O cacique conseguia até tiradas poéticas. Diante da insistência de jornalistas sobre promessas marqueteiras, saiu-se com esta: "Não me lembro. Tenho um limpador no para-brisa traseiro que apaga tudo para trás".
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> Metáfora garciística. Acabou imitado por Fernando Henrique Cardoso. Confrontado por discrepâncias entre seu passado de sociólogo e decisões de governo, o tucano pediu: "Esqueçam o que escrevi". Puro Hélio Garcia.
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> Outras frases revelam o apreço dele à chamada "mineiridade": "Não brigo, mas também não faço as pazes."
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> Como quase-literato, buscava na autorreferência o entendimento do fazer político.
> Comparava o início de disputas eleitorais a um caminhão de porcos. "Quando o caminhão ainda está parado, os porcos berram, grunhem, fazem um escarcéu! Colocada a primeira marcha, quando o caminhão começa a andar, os porcos ficam caladinhos; todo mundo se acomoda".
> Uma autocrítica nada lisonjeira à política.
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> Outra pérola que adorava jogar aos jornalistas (não aos porcos) atacava a política feita em microfones, sob o flash dos fotógrafos e as luzes da TV. "Política deve ser feita à noite, com chapéu e sobretudo, dentro de um táxi, de preferência em movimento".
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> Este artigo não pretende defini-lo ou a seus mandatos no governo (1983-84/1991-94), política ou historicamente. Trata-se de reminiscências jornalísticas.
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> Garcia não se sentia bem diante da assertiva de que passava o tempo todo no Palácio das Mangabeiras, enquanto o homem forte de seu governo, Evandro de Pádua Abreu, cuidava do varejão palaciano. EPA mantinha, contudo, um telefone vermelho - sou testemunha - que trinava o dia todo, com instruções, às vezes irritadas, de Garcia.
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> Esse folclore tinha humor. Quando ele deixou o PMDB, em 1990, e fundou o PRS para aglutinar base suprapartidária, um repórter decifrou a sigla: "PRS - Partido Regado a Scotch".
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> Durante a disputa do governo pelo PT, Virgílio Guimarães contou-me uma história que mostra a ambivalência - politicamente perigosa - dessa exploração eleitoral. Virgílio abriu um comício atacando o gosto de Garcia pela bebida. Do meio do público, uma voz irritadiça retrucou: "Se quiser atacar o homem, ataca. Falar que ele bebe, não! ‘Nó is ’ aqui tudo bebe!". Virgílio não tocou mais no assunto. "Se eu bebesse o tanto que falam, não estaria vivo", reclamou, certa vez, o ex-governador.
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> Fumador inveterado, Garcia foi provocado por uma repórter que queria saber por que ele nunca participava d e eventos matinais. Queria pegá-lo em relação a seus hábitos boêmios.
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> - Mas o senhor faz o quê pelas manhãs?
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> - Tusso!

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