A POSSE DE
JOAQUIM BARBOSA: O HAITI É AQUI.
O fato de
um afrodescendente assumir o mais alto posto da Magistratura é de importância
incomensurável. Parabéns ministro Joaquim Barbosa. Contra todos e todos, ele
chegou lá. Contudo, não vai mudar muita coisa. O racismo no Brasil é camuflado
pela chamada cordialidade do brasileiro. Mas é um dos mais fortes do planeta. Exemplo:
são quantos ministros negros no primeiro escalão do Governo Dilma (PT)? Talvez
só a ministra da Igualdade Racial (que é uma obviedade), Luiza Bairros. Quantos
secretários negros no governo Anastasia (PSDB)? Quais no secretariado do
prefeito Márcio Lacerda (PSB)? Pouquíssimos, se é que existem. O fato de o
presidente do Supremo ser negro, por si só, não vai alterar essas condições. As
cotas, eu acredito, embora importantes, também não serão motor da história de
mudanças. O escritor Machado de Assis, neto de escravos, foi apontado pelo
conceituado crítico Harold Bloom como o maior gênio literário afrodescendente da
humanidade. Mais de cem anos depois da morte de Machado (1908), não creio que esse
fato tenha melhorado as condições dos negros brasileiros. Para mudar, é preciso
haver uma democracia econômica no País. O número de homicídios – que já era um
dos maiores do mundo – dobrou em São Paulo nos últimos meses. Boa parte das
vítimas é de jovens e negros. Não é só em São Paulo. Isso acontece em todo o
País, principalmente nas regiões metropolitanas. Há um programa deliberado de extermínio,
que não é discutido por causa da hipocrisia e dos interesses reinantes. Tudo é
colocado, sem investigação, na esfera de “guerra do tráfico”, “briga de gangs”.
Como diz a música “Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, costumeiramente
são forças policiais formadas por uma maioria negra perseguindo (torturando e
matando) negros. A deputada Janete Pietá (PT/SP), que defende direitos
trabalhistas dos empregados domésticos, deduziu que a maioria é formada por
mulheres negras. Pesquisa recente do IBGE aponta que a faixa de mulheres com
mais dificuldades de contrair casamento é da raça negra. Portanto, segundo o
racismo brasileiro, que transita em setores pouco imagináveis, a
afrodescendente é para trabalhar de doméstica, não pode nem casar. Logicamente,
tem exceções – e muitas. Mas, o Haiti é aqui; continua sendo aqui. Não é porque
Lázaro Ramos é um dos principais artistas globais que o racismo diminuiu.
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