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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

REPUBLICADO: A POSSE DE JOAQUIM BARBOSA: O HAITI É AQUI.

O fato de um afrodescendente assumir o mais alto posto da Magistratura é de importância incomensurável. Parabéns ministro Joaquim Barbosa. Contra todos e todos, ele chegou lá. Contudo, não vai mudar muita coisa. O racismo no Brasil é camuflado pela chamada cordialidade do brasileiro. Mas é um dos mais fortes do planeta. Exemplo: são quantos ministros negros no primeiro escalão do Governo Dilma (PT)? Talvez só a ministra da Igualdade Racial (que é uma obviedade), Luiza Bairros. Quantos secretários negros no governo Anastasia (PSDB)? Quais no secretariado do prefeito Márcio Lacerda (PSB)? Pouquíssimos, se é que existem. O fato de o presidente do Supremo ser negro, por si só, não vai alterar essas condições. As cotas, eu acredito, embora importantes, também não serão motor da história de mudanças. O escritor Machado de Assis, neto de escravos, foi apontado pelo conceituado crítico Harold Bloom como o maior gênio literário afrodescendente da humanidade. Mais de cem anos depois da morte de Machado (1908), não creio que esse fato tenha melhorado as condições dos negros brasileiros. Para mudar, é preciso haver uma democracia econômica no País. O número de homicídios – que já era um dos maiores do mundo – dobrou em São Paulo nos últimos meses. Boa parte das vítimas é de jovens e negros. Não é só em São Paulo. Isso acontece em todo o País, principalmente nas regiões metropolitanas. Há um programa deliberado de extermínio, que não é discutido por causa da hipocrisia e dos interesses reinantes. Tudo é colocado, sem investigação, na esfera de “guerra do tráfico”, “briga de gangs”..Como diz a música “Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, costumeiramente são forças policiais formadas por uma maioria negra perseguindo (torturando e matando) negros. A deputada Janete Pietá (PT/SP), que defende direitos trabalhistas dos empregados domésticos, deduziu que a maioria é formada por mulheres negras. Pesquisa recente do IBGE aponta que a faixa de mulheres com mais dificuldades de contrair casamento é da raça negra. Portanto, segundo o racismo brasileiro, que transita em setores pouco imagináveis, a afrodescendente é para trabalhar de doméstica, não pode nem casar. Logicamente, tem exceções – e muitas. Mas, o Haiti é aqui; continua sendo aqui. Não é porque Lázaro Ramos é um dos principais artistas globais que o racismo diminuiu.

PS: fiz, há dois anos, um poema visual, “Presunto a Passarinho”, sobre o tema. Quem se interessar, envio por e-mail. Os meus endereços são: carlosbarrozo@hotmail.com / jornalistacarlosbarroso@gmail.com

 

 

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